Publicado em Deixe um comentário

O Spotify esta realmente matando a música ?

A palavra “robô” vem da palavra tcheca robota, que significa “trabalho forçado”. Isso quer dizer que os robôs devem ser nossos servos mecanizados leais. Desde que a palavra foi cunhada, no entanto, tem havido um medo geral de revolta, uma revolta dos robôs contra seus mestres humanos. Hoje, a natureza desse medo mudou. No último ano da segunda década do século XXI (isso mesmo 2020 é o último ano da segunda ´decada e não o primeiro da terceira década. Não estamos mais tão preocupados com as criaturas do tipo Exterminador do Futuro tentando nos exterminar (perdão pela redundância). Será que agora nos preocupamos mais com as inteligências artificiais que criamos que um dia se voltarão contra nós?

Talvez isso já esteja acontecendo de alguma forma. Onde antigamente éramos os mestres e nossos servidores “mecanizados” (na forma de códigos de programação) trabalhavam para nós, agora esse mesmo código está trabalhando contra nós. Isso está ocorrendo em muitas áreas de nossas vidas, da política ao namoro e à publicidade. Mas eu gostaria de falar sobre como isso está afetando a criação de músicas.

Inegavelmente, o Spotify é uma coisa mágica: a maioria das músicas do mundo pode ser acessada de qualquer lugar, CDs e disqueteiras de CDs viraram história, peças de museu, ou artigos que servem para nos causar nostalgia. Com o Spotify você pode compartilhar instantaneamente suas listas de música (playlist) com seus amigos em todo o mundo.além de poder ter uma variedade imensamente eclética e interminável de novas músicas recomendadas por um algoritmo, em vez de um vendedor da loja de discos.

No entanto, é este último benefício aparente que representa a revolta iminente dos robôs. Quem ou o que exatamente está fazendo essas recomendações, como e quais são seus motivos? E, mais premente para nós, como criadores de música, o que isso significa para a música que criamos?

Se você deseja que sua música seja ouvida no Spotify, há algumas coisas que você pode fazer. Primeiro, verifique se os primeiros cinco a dez segundos prendem o ouvinte. Por quê? Porque, caso contrário, eles pularão para a próxima música; dado que há uma quantidade quase infinita de músicas para ouvir, por que perder tempo ouvindo algo que não oferece satisfação instantânea? Se seus ouvintes pularem, o seu “sábio” mestre Spotify perceberá isso e terá menos probabilidade de recomendar sua faixa na próxima vez.

 
Em segundo lugar, verifique se a sua faixa é versátil o suficiente para ser aplicada ao maior número possível de playlists. Basicamente, torne-a tão neutra quanto possível, porque o Spotify está “avaliando isso”. Explicando melhor, o algorítmo do Spotify, analisa as combinações entre estilos e timbres também para sugerir músicas aos usuários.

O problema é que essa tentativa de se encaixar no maior número possível de listas de reprodução acabará transformando toda a música em uma espécie de “gosma cinzenta”; um mingau sem gênero e sem alma. Músicas estremamente originais como as do PinkFloyd por exemplo, se fossem criadas hoje, não teriam tanto interesse pelo sistema do Spotify por exemplo, pois devido a tamanha originalidade e a “cultura do imediato” das pessoas impediria o rankeamento neste tipo de plataforma, o que dificultaria muito a popularização. Na verdade a questão é: as pessoas é que moldam tais padrões, ou estas tecnologias é que moldam a preferência das pessoas.

Se “filosofarmos” um pouco mais poderíamos dizer que os donos destas tecnologias, provavelmente preferem esta situação, pois a verdade é que quanto mais os gostos forem padronizados, mais barato será a geração de conteúdo e por consequência mais barato o esforço para vender e indo um pouco mais longe, mais fácil induzir as pessoas à comportamentos específicos.

O Spotify deu início a era do streambait: música composta puramente para maximizar as audições.

Você pode apontar corretamente que uma grande proporção de música sempre foi escrita para um propósito, seja Bach escrevendo música de órgão para a igreja ou Juan Atkins escrevendo techno para porões de Detroit. O que há de tão diferente no Spotify? Ele tenta democratizar e remover os “porteiros” tradicionais do mercado musical (gravadoras, rádios, TVs, produtores, etc).

Voltando ao mercado musical, o grande problema deste tipo de sistema como no Spotify, é que precisamos estudar como o algorítmo dele funciona. É como se escrevessemos música para agradar a este robô, que nada mais é do que um algorítmo que faz análises a partir de vários dados a partir do comportamento de navegação da maioria. O problema é exatamente este – a busca pela maioria. Este tipo de sistema deveria ajudar a cada músico encontrar o seu público e não tentar moldar o músico para a maioria.

Parece que nos encontramos em um mundo onde o “trabalho forçado” mencionado na palavra robota não está sendo realizado pelos próprios robôs, mas pelos humanos que trabalham a seu serviço.

Música deve ser feita para humanos, deve ser feita para celebrar a diversidade, deve ser feita para inspirar, ser instrumento de desenvolvimento cultural. A tecnologia deve na verdade conseguir valorizar isso e não um instrumento de massificação. A questão é que consegue-se mais ganhos financeiros massificando do que diversificando e é ai que vem a beleza das novas tecnologias.

Antes para ouvirmos as canções dos artistas que admirávamos, ou seria acompanhando estes e shows e outras apresentações, ou comprando um LP ou uma fita K7 (muitos hoje nem mais sabem o que é realmente isso.

O artista para atingir seu público gravava um LP e estes eram vendidos em lojas especializadas, o ganho pelo seu trabalho acontecia principalmente pelos ganhos da venda destas mídias. Desta maneira este artista conseguia ir atingindo seu público. Shows e eventos eram uma grande fonte de renda, mas não era a fonte exclusiva.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a massificação delas, veio a pirataria, que antes era restrita a gravação de fitas K7 (sem qualidade). Primeiro com a popularização dos CDs e por consequência os dispositivos de cópias, trouxeram a qualidade que faltava, para que a pirataria crescesse. Como era algo simples de ser feito os governos perdem o controle, pois na maioria dos países há problemas mais sérios para serem resolvidos e o combate a pirataria (no sentido de cópias ilegais) não era uma prioridade.

Como isso a renda obtida pela distribuição dos trabalhos musicais em mídia física como os CDs por exemplo começa a cair drásticamente.

Como se não bastasse a internet vem se desenvolvendo e quebrando paradigmas. Até então, mesmo que você quizesse pagar mais barato por uma cópia de um trabalho músical de um artista, ou você precisava da cópia legalizada (aquela comprada em um ponto de venda formal) e com isso copiá-la em um gravador de CD que nem sempre tínhamos disponível, ou comprávamos de um vendedor clandestino. Isto naturalmente tinha um impacto negativo na sociedade, pois geralmente quem investia nesta atividade de cópias ilegais, também poderiam ser os mesmo que vendiam drogas nas portas das escolas.

Mas ai veio a internet e com ela a troca de arquivos digitais através de sistemas que conectavam as pessoas mundo a fora. Muitos devem ou se lembrar, ou já ter ouvido falar do Napster, que era um programa (é, antes chamávamos de programa e não de app) que instalávamos no computador e ele conectava os usuários através de seu servidor e com estas conexões compartilhavamos nossa playlist sem precisar comprar nada. A internet neste momento estava popularizando a forma de piratear música e outros tipos de arquivos. Por um lado retirou do mercado os criminosos “profissionais” deste mercado, mas não resolveu o problema da distribuição de cópias ilegalmente. Os músicos por exemplo continuávam sem esta importante fonte de renda.

Este movimento foi devastador, pois aqueles músicos com pouco poder econômico (maioria) e pouca expressão em sua região passam a ter dificuldade de divulgar seus trabalhos e por causa disso tivemos uma queda absurda na produção criativa nesta área.

Neste momento, ganhos com música iriam acontecer basicamente com pequenas apresentações em pequenas casas de show, ou bares e pubs, onde os ganhos são pequenos o que faria com que muitos(as) músicos(as) passem a ter a música como uma renda extra e não como uma profissão. E para os que conseguissem realmente genhar dinheiro com seus trabalhos, somente com grandes shows, onde grandes estruturas eram necessárias. Ai é que esta o problema: o(a) “pequeno(a)” músico(a) não tem como criar nada novo, pois seu tempo disponível esta totalmente tomado por outras atividades para seu próprio sustento. Os “grandes” músicos presos a um sistema comercial que tem como finalidade primária o lucro, o que faz que eles precisam sempre agradar um grande número de pessoas em regiões relativamente pequenas, mas com grande aglomeração de pessoas. para isso ser possível, somente criando composições mais simples que agradem muitas pessoas ao mesmo tempo em uma região. Desta forma o fator artistico se torna secundário, dando lugar apenas a diversão pura e sem propósito.

Isto faz com que a qualidade das composições comercialmente viáveis caem e com isso acontece um movimento de regressão na qualidade musical, já que a arte musical deixa de ser também um instrumento de estímulo intelectual, pois as músicas são criadas pensando em apenas entreter, apenas divertir.

Novas tecnologias vem surgindo e hoje simplesmente não pensamos mais em mídias físicas para ter nossas músicas favoritas, hoje entendemos que são apenas arquivos digitais que nem precisam estar armazenados em nossos dispositivos.

O Spotify é uma dessas formas de distribuição de conteúdo musical. Estamos novamente diante de um divisor de águas que pode ou consolidar este movimento de degradação ou reviver uma era de produção de alta qualidade.

Sinceramente acredito no resurgimento das cinzas, pois apesar deste poder de empresas como a que possui o sistema do Spotify, estas seguem seu desenvolvimento a partir do crescimento tecnológico, e a tecnologia apesar de ter como estímulo principal de desenvolvimento o lucro, não tem como se desenvolver se os seres humanos não forem evoluindo. Além disso nenhuma tecnologia se desenvolve realmente se não conseguir ser massificada e para isso precisa de muita gente desenvolvendo técnicas e conteúdo.

Observe como é muito mais fácil hoje produzir conteúdo. Hoje se você quizer produzir e distribuir sua núsica, alugar ou comprar equipamentos que nem são tão caros mais, produzir e distribuir eletrônicamente, até via Spotify. Veja quantos artistas surgem regionalmente por estarem presentes no Youtube, um exemplo clássico é um casal que se entitulam como OverDrive Duo e apesar de não criar composições próprias interpretam músicas famosas de maneira original a tal ponto que fazem turnês pelo mundo, tudo isso tendo como ponto de divulgação o gigante do videos na internet (Youtube).

Uma pessoa que apenas por hobby deseja publicar suas idéas musicais pode fazer isso e com qualidade, ao ponto que se desejar, acaba se desenvolvendo e atingindo um bom público e acaba com isso criando do hobby uma profissão.

O certo é que nada será realmente como antes. E sim, há caminhos para termos satisfação e ganhos com a música. Aquelas tecnologia que achamos se contra nós, podem ser usadas a nosso favor.

Equipe Sônica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *